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74% dos veículos de Jornalismo no Brasil planejam diversificar fontes de receita com foco em publicidade e contribuições do público

O Project Oasis lançou um relatório mapeando mais de 3 mil organizações de jornalismo digital em 68 países, incluindo informações sobre veículos brasileiros pela primeira vez. O objetivo é criar uma base de dados global para apoiar líderes de mídia, investidores, acadêmicos e formuladores de políticas na promoção da sustentabilidade e credibilidade da mídia digital.

74% dos veículos de Jornalismo no Brasil planejam diversificar fontes de receita com foco em publicidade e contribuições do público

O Project Oasis lançou um relatório mapeando mais de 3 mil organizações de jornalismo digital em 68 países, incluindo informações sobre veículos brasileiros pela primeira vez. O objetivo é criar uma base de dados global para apoiar líderes de mídia, investidores, acadêmicos e formuladores de políticas na promoção da sustentabilidade e credibilidade da mídia digital.

Foi lançado no dia 30 de julho, o relatório completo e o catálogo de veículos produzidos pelo Project Oasis. A iniciativa começou em 2019 na América do Norte e tem o objetivo de criar uma base de dados global sobre o ecossistema de jornalismo digital.

Com apresentação dos perfis detalhados de organizações de jornalismo digital, o evento, realizado em Buenos Aires, Argentina, também foi transmitido ao vivo pelo YouTube da SembraMedia, líder do programa.

Nesta fase do projeto, foram mapeadas mais de 3 mil organizações de 68 países na Europa e nas Américas. É a primeira vez que a pesquisa inclui informações sobre veículos brasileiros em seu diretório. 

Uma observação importante foi a necessidade de mais apoio ao jornalismo local e hiperlocal. Os veículos com cobertura internacional registram receitas 50% maiores do que aqueles que cobrem questões nacionais. Estes últimos, por sua vez, têm rendimentos cerca de quatro vezes maiores do que os que focam na agenda regional e local.

Parcerias e Contribuições Brasileiras

Com o apoio da Google News Initiative, o levantamento no Brasil foi realizado em parceria com a Associação de Jornalismo Digital (Ajor), que se juntou a um grupo de organizações aliadas à SembraMedia.

As informações brasileiras, foram lançadas primeiramente durante o primeiro dia do Festival 3i 2024, em 13 de junho, na Casa Firjan, no Rio de Janeiro, e contou com a apresentação da diretora do Project Oasis Global, Ana Paula Valacco, e o coordenador do programa no Brasil, Marcelo Fontoura.

Entre os parceiros estão LION Publishers (América do Norte)European Journalism CentreMedia and Journalism Research CenterGlobal Forum for Media Development International Media Support (Europa).

Ao longo de cinco meses de trabalho, nove pesquisadores, distribuídos pelas cinco regiões do Brasil, reuniram dados sobre receita das organizações, modelo de negócio, gênero dos fundadores e número de funcionários. Ao todo, foram mapeados 164 veículos, sendo 60% associados à Ajor, que serão somados ao conjunto de dados dos outros países.

Diretório e Objetivos do Project Oasis

Está disponível um diretório com perfis detalhados e opções para comparar e produzir mais conhecimento a partir das informações de mais de 160 mídias brasileiras somadas ao conjunto dos outros países. Nos próximos anos, o programa pretende incluir organizações da Ásia, África e Oriente Médio.

objetivo do projeto é fornecer insights e recomendações para:

  1. Líderes de mídia e suas equipes: para ajudá-los a aprender uns com os outros, identificar potenciais parceiros e revelar modelos de negócios, tendências, melhores práticas e técnicas que possam fortalecer suas próprias organizações.
  2. Financiadores, investidores e organizações de suporte à mídia: para entender melhor os padrões e tendências nas regiões e países cobertos, auxiliando na implementação de iniciativas que apoiem melhor a sustentabilidade da mídia digital independente.
  3. Acadêmicos: para aumentar o acesso a informações sobre o setor de mídia, incluindo pluralismo, liberdade de imprensa, e mercados de mídia.
  4. Formuladores de políticas: para garantir que as necessidades dessas novas formas de mídia sejam consideradas na criação de políticas nacionais e internacionais.
  5. Todos que apoiam a liberdade de imprensa: para apoiar organizações de notícias digitais independentes.

Trata-se de uma ferramenta importante para mapear e entender o ecossistema do jornalismo digital, oferecendo uma visão abrangente das tendências e desafios enfrentados por mídias nativas digitais ao redor do mundo. Para acessar o diretório e obter mais informações, visite globalprojectoasis.org.

Para entender mais sobre os impactos do Project Oasis no Brasil, leia, a seguir, a entrevista com Samanta do Carmo, gerente-executiva da Ajor. A Ajor é uma entidade parceira da Alright, que também estará presente em um dos painéis do Alright Summit para apresentar detalhes do Project Oasis.

Ela é formada em Jornalismo pela Unesp e Filosofia pela UNB. Como repórter atuou principalmente na cobertura política e no Congresso, em Brasília. Passou por veículos como TV Brasil, Congresso em Foco, Azmina e Intercept Brasil, onde foi coordenadora de Redação. Ex-bolsista dos programas Women Leadership Acceleretor (ONA, US) e Emerging Media Leaders (ICFJ/ECA, US).

Qual foi o critério utilizado para selecionar as organizações brasileiras de mídia incluídas no projeto? Houve algum desafio específico nesse processo?

Os critérios usados pela Ajor para selecionar as organizações de jornalismo brasileiras que foram pesquisadas e incluídas no diretório do Project Oasis, seguiram basicamente os critérios gerais estabelecidos pela missão:

  • Organizações de jornalismo nativas digitais ou com a grande maioria de seus conteúdos e modelo de negócio online;
  • Ter sido regularmente constituída há pelo menos 12 meses (CNPJ) ou comprovar atividade jornalística constante nos últimos seis meses; 
  • Declarar ter controle editorial independente do Estado, de partidos políticos ou de políticos com mandato.

O objetivo é identificar novos tipos de mídia que atendam ao interesse público sem excluir as startups, que são tão novas ou tão inovadoras que nem sempre se parecem com organizações de notícias e, como resultado, não podem atender aos critérios tradicionais que outras organizações usam nesses tipos de avaliações.

Priorizamos a identificação de organizações de notícias nativas digitais e editorialmente independentes que atendam ao interesse público por meio de notíciasjornalismo investigativo e reportagens baseadas em fatos. No caso brasileiro, ainda priorizamos uma seleção com representatividade regional. 

Quais são as principais tendências e desafios observados no ecossistema de mídia digital no Brasil, especialmente em relação à diversidade de gênero entre os fundadores e à sustentabilidade financeira das organizações?

pesquisa Oasis reafirmou uma tendência que a Ajor já vinha percebendo desde sua fundação, em 2021, que é a alta participação de mulheres na criação de novas organizações de jornalismo no país. De acordo com a pesquisa, mais de 80% dos veículos pesquisados têm pelo menos uma mulher em sua equipe de fundadores. 

Como hipóteses, esse número pode demonstrar, por um lado, que as mulheres vêm conseguindo mais protagonismo na gestão de empreendimentos jornalísticos. No entanto, também pode se relacionar com a dificuldade da ascensão de mulheres na estrutura do jornalismo convencional. Ou seja, para avançar em suas carreiras, as mulheres precisam deixar grandes e tradicionais empresas de jornalismo e empreender. 

Sobre sustentabilidade financeira, a informação que considero mais relevante é a de que 74% das organizações de jornalismo entrevistadas no Brasil planejam investir em novas fontes de receita num horizonte de um ano, o que corresponde ao ano de 2024, considerando que a coleta de dados ocorreu entre outubro de 2023 e fevereiro de 2024.

publicidade segue como fonte de receita mais citada e também aparece como a mais mencionada entre esses veículos que estão pensando em diversificar receitas em curto prazo. Mas as fontes de receita diretamente do público também demonstram ser promissoras, elas aparecem em terceiro lugar na intenção de investimento dos gestores de mídia em busca de diversificação de receitas. 

Como a AJOR enxerga o papel do jornalismo local e hiperlocal no Brasil, especialmente em regiões como a Amazônia, onde há uma carência significativa de cobertura jornalística? Vi que há um tópico bem relevante sobre o tema no relatório.

Parte importante da missão da Ajor é fomentar um jornalismo de interesse público mais diverso e plural, e a associação entende o jornalismo local e hiperlocal como agentes importantes dessa pluralidade e diversidade. E também como agentes importantes para aproximar as pessoas do jornalismofortalecer vínculos sociais e comunitários na localidade em que atuam e combater os desertos de notícias. 

O jornalismo atuante na Amazônia também segue esse padrão, mas tem um ambiente informacional com demandas específicas. Por exemplo, ao mesmo tempo em que diversas organizações de jornalismo reportam sobre a região, sem necessariamente estarem sediadas na Amazônia, também é preciso fortalecer o jornalismo local feito pelos próprios amazônidas e comunicadores indígenas, que atendem necessidades informacionais básicas dessa comunidades, como acesso a serviços e fortalecimento do vínculo social da comunidade, além de terem acesso a fontes e histórias que outras organizações não têm.

Todos desempenham um papel crucial na defesa da democracia e na proteção dos direitos humanos ao expor práticas ilegais, corrupção e violações ambientais e estão em risco por causa disso.    

De forma geral, vale mencionar que a pesquisa Oasis aponta que os veículos de jornalismo digital de cobertura nacional declararam receitas 4 vezes maiores do que a média das organizações de jornalismo local e regional, o que aponta para o desafio da sustentabilidade financeira e do desenvolvimento do jornalismo local e hiperlocal.  

O relatório menciona o uso de publicidade programática e redes de anúncios programáticas. Como essas ferramentas têm ajudado as mídias menores a se manterem financeiramente?

O relatório do Oasis indica que organizações de pequeno porte dificilmente conseguem desenvolver receitas na área da publicidade tradicional para marcas nacionais e internacionais, mas conseguem rendimentos a partir da publicidade programática e redes de anúncios programáticos – o que é visto em 26% das organizações do diretório (não estão incluídos os números do Google Adsense).

O grande ponto desse tipo de publicidade está na possibilidade de direcionar os conteúdos ao público-alvo, que pode ser alcançado com veículos que cobrem nichos específicos. No Brasil, podemos citar um exemplo de uso da mídia programática que é a Black AdNet, que conecta anunciantes e marcas a uma rede de sites e publishers negros.

Quais os próximos passos a serem desenvolvidos no contexto do projeto para os veículos do Brasil?

O primeiro passo agora que o diretório está no ar é descobrir o máximo possível de tendências a partir do cruzamento de dados para embasar ações de fortalecimento do jornalismo no Brasil.

As organizações de jornalismo participantes das etapas anteriores no Sudeste Asiático, África e América Latina hispanófona, por exemplo, relatam que sua inclusão no diretório e relatórios da pesquisa os ajudou a atrair a atenção de financiadores, serviços jurídicos pro-bono e outros apoiadores. Esperamos que os veículos brasileiros também possam ganhar visibilidade a partir do diretório. 

Ohana Luize

Ohana Luize

Editora de conteúdo na Aurora News, atua na assessoria de imprensa e no time de marketing da Alright. Jornalista e Relações Públicas com mestrado em Comunicação, está cursando pós-graduação em Educomunicação e Tecnologia. Desde 2014, trabalha em assessoria de comunicação e imprensa para empresas públicas, privadas e do terceiro setor.

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