Inspirados no caso traduzido por Pyr Marcondes nesta edição (texto acima), o time de edição da Aurora News convidou Ricardo Silberschlag para trazer uma perspectiva local brasileira sobre o assunto da sustentabilidade do negócio em um jornal impresso. Diante dos desafios para o jornalismo local, Ricardo compartilha sua visão sobre como manter um veículo de mídia regional relevante e financeiramente sustentável.
Ricardo Silberschlag é Diretor do jornal Folha do Mate de Venâncio Aires (RS) e presidente da ADI Multimídia no Rio Grande do Sul. Tem uma visão privilegiada sobre a transição digital no jornalismo local com uma trajetória que inclui a criação do veículo digital da Folha do Mate. Silberschlag testemunhou de perto as transformações no consumo de notícias e as adaptações necessárias para manter a relevância e sustentabilidade do jornal.
Ele respondeu algumas questões sobre o impacto dos novos formatos de conteúdo digital e a busca por soluções que garantam a viabilidade de um negócio jornalístico regional em meio às rápidas mudanças tecnológicas e comportamentais.
- Como vocês fazem hoje a gestão do jornal, relacionando com o veículo digital? O que mudou ao longo dos anos nas decisões sobre o veículo diante dos impactos da digitalização do consumo de notícias?
Nós temos nosso veículo digital desde o final de 2001, quando contratamos nosso primeiro site, e desde então, mantemos alguma atualização.
No início, era algo mais tranquilo, com uma ou duas atualizações por dia, no máximo. Isso foi evoluindo para um volume muito maior de notícias. O relacionamento que construímos no início era direto: o que saía no jornal também saía no digital. Com o tempo, isso mudou. Hoje, as notícias factuais, que impactam rapidamente, e os serviços, colocamos de forma mais rápida no site.
- Como você enxerga o impacto de produtos complementares como podcasts, boletins informativos e eventos na relevância e na sustentabilidade de negócio em um jornal?
São consumos mais urgentes e superficiais, quase como commodities. Embora isso não gere muita receita, ainda é importante. Falamos sobre a escola local, a rua local, e a comunidade, mas, com um público pequeno de 500, 1.000 ou 2.000 visualizações, a conta não fecha. Seja pela venda de mídia via Ads, que praticamente não paga nada, ou pela venda direta, é muito difícil monetizar esse tipo de conteúdo.
Atualmente, vemos o site como uma extensão da audiência para todo o negócio que fazemos, com a relevância que ele traz para a comunidade através de debates, painéis e eventos.
Quanto ao jornal impresso, estamos em mutação. Percebemos isso nos grandes veículos, e também no nosso. Reduzimos o número de páginas, especialmente durante a semana, onde o produto é mais factual, mas no fim de semana conseguimos oferecer conteúdos mais variados e aprofundados, com histórias da comunidade, entrevistas e análises sobre saúde e educação.
As pessoas estão mais desinformadas, mesmo com o excesso de informações disponíveis. Hoje, o jornal impresso ainda tem um papel importante, e percebemos que o perfil do público acima de 40 anos, que havia parado de ler, está voltando.
- Você acredita que transformar um jornal local em um negócio mais digital, como proposto em muitos casos, pode garantir sua sustentabilidade a longo prazo? Como fazer isso na prática?
O impresso oferece um aprofundamento maior, sem interrupções de notificações, como acontece na leitura pelo celular. Para contar histórias e oferecer análises profundas, acredito que o jornal impresso ainda tem uma longa vida. Não vejo seu fim iminente nos próximos cinco anos.
A grande questão agora é gerar mais receita com o jornal. Temos que mostrar nossa audiência e fazer um cross-media com nossos outros canais, como rádio e redes sociais, criando produtos que façam sentido para o cliente e ajudem a desenvolver a comunidade, seja na educação, nos negócios ou na infraestrutura. Hoje, vendemos projetos completos que geram impacto no município, muito mais do que apenas anúncios individuais, que estão em declínio.