Além de ressaltar a importância da regulamentação, o relatório da UNESCO alerta que a ausência de controles adequados pode ampliar as desigualdades informativas e concentrar poder nas mãos de poucas empresas tecnológicas. A falta de regras claras sobre o uso de IA no jornalismo pode levar à exploração indevida de dados e à desinformação, prejudicando não apenas o ecossistema midiático, mas também a confiança pública nas instituições e na mídia tradicional. A organização também destaca que a democratização do acesso às tecnologias emergentes é essencial para garantir uma cobertura jornalística plural e diversa.
O documento enfatiza ainda que, para um futuro sustentável, é crucial que governos, empresas e veículos de comunicação trabalhem em conjunto. Parcerias estratégicas podem promover inovações responsáveis, ao mesmo tempo em que respeitam os direitos dos criadores de conteúdo e as legislações locais. A UNESCO sugere que empresas de IA invistam em soluções de código aberto e em treinamentos para jornalistas e editores, ajudando-os a entender e aplicar essas tecnologias de forma segura. Assim, o uso consciente e regulado de IA pode fortalecer o jornalismo e garantir que ele continue cumprindo seu papel essencial de informar e promover a democracia.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) publicou um relatório pedindo a regulamentação urgente da Inteligência Artificial (IA) para garantir a proteção do jornalismo e o uso responsável dessa tecnologia. O documento, intitulado “IA e o Futuro do Jornalismo: Um Memorando para Stakeholders,” propõe medidas para assegurar que as ferramentas de IA sejam utilizadas de forma ética e transparente, sem prejudicar a produção jornalística e os direitos humanos.
O relatório foi elaborado pela pesquisadora Anya Schilffer, da Columbia University, nos Estados Unidos, e apresenta recomendações voltadas para empresas de tecnologia, governos e veículos de comunicação. O foco é que a regulamentação contemple questões centrais, como direitos autorais e transparência no uso de IA.
A mensagem central do documento da Unesco apresenta 8 destaques que são:
- Organizações jornalísticas estão adotando a IA Generativa como parte das práticas de redação, mas estão cautelosas quanto ao impacto econômico de grandes empresas que lucram com seu conteúdo sem a devida permissão e compensação.
- Veículos de mídia ao redor do mundo têm emitido códigos de conduta que destacam o respeito aos dados do público, a autenticidade do conteúdo, a divulgação do uso de IA, a transparência, a diversidade e a integridade da informação, além do direito à remuneração pelas empresas de IA.
- Sem acordos sobre direitos autorais e propriedade intelectual, o modelo de negócios atual da criação jornalística será prejudicado, representando uma ameaça à diversidade cultural. Os próprios modelos de IA se tornarão pouco confiáveis se não forem treinados com informações de qualidade.
- Além de serem impactados pelo crescimento da IA Generativa, organizações de notícias e jornalistas estão cobrindo o tema e educando o público sobre os riscos e benefícios potenciais.
- A concentração no setor de IA terá profundas implicações para o mundo todo, e as autoridades de concorrência estão avaliando se são necessárias novas regulamentações.
- Criadores, editores e jornalistas têm defendido a atualização das regulamentações de direitos autorais ou, pelo menos, a rigorosa aplicação das normas existentes, garantindo que levem em conta as novas tecnologias.
- Algumas organizações jornalísticas estão assinando acordos de licenciamento com grandes empresas de IA Generativa. Ao fazer isso, essas empresas estão estabelecendo a necessidade de compensação e criando um mercado para licenciamento de conteúdo.
- Áreas importantes a considerar incluem: preservação da autenticidade, diversidade de idiomas e culturas, e transparência da informação. Manter mercados competitivos pode ajudar a evitar a degradação adicional do ecossistema cultural e noticioso.
Para as empresas de IA, a Unesco sugere a criação de uma governança orientada pelos princípios dos direitos humanos. Isso inclui garantir que os criadores de conteúdo sejam devidamente reconhecidos e compensados pelo uso de suas produções. Já para os veículos jornalísticos, a organização defende que as redações implementem políticas claras para o uso de IA, com supervisão humana em todas as etapas de criação, além de informar ao público quando a tecnologia for utilizada.
O documento também alerta os governos sobre a necessidade de desenvolver regulamentações voltadas para o mercado de IA, com o objetivo de proteger o papel do jornalismo na sociedade. A Unesco destaca que o jornalismo desempenha uma função vital na democracia e na promoção de uma sociedade informada.
Fonte: MediaTalks