Jornalismo Colaborativo como tendência. Com temas globais como mudanças climáticas, corrupção e violações de direitos humanos dominando as manchetes, a colaboração entre jornalistas de diferentes países se torna essencial para investigações profundas e impactantes. Este cenário complexo é exatamente o que Coco Gubbels, especialista em gestão de projetos de jornalismo investigativo, aborda em seu guia “Gestão de Projetos: Jornalismo Colaborativo”, publicado pela Global Investigative Journalism Network (GIJN).
Gubbels, que possui uma vasta experiência tanto como jornalista quanto como gerente de projetos, traz uma perspectiva prática e essencial para a execução de investigações colaborativas eficazes. Com base na introdução do guia de Gubbels, elencamos as principais estratégias apresentadas pela especialista.
A evolução do Jornalismo Colaborativo
A colaboração no jornalismo não é nova. Desde a fundação da Associated Press, no século XIX, o trabalho conjunto entre veículos já mostrava vantagens ao compartilhar conteúdo e recursos.
Hoje, porém, essa colaboração vai muito além, alimentada pela internet e pela facilidade de comunicação global, e se reflete em investigações colaborativas que envolvem múltiplas equipes e cruzam fronteiras para cobrir questões de interesse mundial. Mas, para que esses projetos sejam bem-sucedidos, é fundamental uma gestão eficiente que garanta o cumprimento de prazos, a alocação de recursos e a harmonização de diferentes perfis profissionais.
Em investigações colaborativas, se sobressai o papel do gerente de projetos. Segundo Gubbels, ele não é um líder no sentido tradicional, que dita uma direção, mas sim um facilitador que orienta a equipe.
Sua função é garantir que o trabalho seja organizado, as metas sejam cumpridas e que a comunicação entre os membros ocorra de forma fluida, mesmo em equipes multiculturais. Esse papel envolve também o controle do orçamento e de riscos, duas áreas que podem determinar o sucesso ou o fracasso de uma investigação.
Habilidades necessárias no Jornalismo Colaborativo
O gerente de projetos deve ser prático, organizado e tecnologicamente competente. No ambiente dinâmico do jornalismo, ele precisa administrar tarefas simultâneas, ser diplomático para resolver conflitos e garantir que todos os envolvidos estejam alinhados. Além disso, deve ser um construtor de consenso, que assegura que os acordos da equipe sejam mantidos e que mudanças sejam discutidas com transparência.
No entanto, uma questão recorrente no jornalismo é se o gerente de projetos deve também atuar como jornalista. Gubbels argumenta que essa dupla função pode gerar conflitos de interesse, já que a visão do projeto pode diferir das perspectivas individuais de cada repórter.
Em alguns casos, um membro da equipe pode assumir a função de gerente de projetos de forma parcial, mas essa decisão precisa ser discutida e consensuada.
Tópicos centrais para a gestão no Jornalismo Colaborativo
O guia de Gubbels é dividido em seis áreas principais que oferecem uma estrutura prática para projetos colaborativos:
- Gestão de projetos: Jornalismo Colaborativo
- Dinâmica de Equipe e Colaboração
- Gerenciamento de Projetos: Planejamento e Cronogramas
- Orçamento e Gestão de Recursos
- Tecnologia e Ferramentas
- Gestão de Riscos e Segurança
- Avaliação e Análise Pós-projeto
Cada membro da equipe pode ter uma experiência cultural e jornalística diferente, o que enriquece a investigação, mas também requer um gerenciamento sensível e atento. Isso é comum em equipes com profissionais de diferentes comunidades, regiões e identidades.
A equipe deve não apenas compartilhar a mesma visão, mas também respeitar os prazos e as diretrizes estabelecidas. Um projeto bem gerido promove um ambiente de confiança, onde a equipe trabalha em sinergia, potencializando a força de cada membro.
O futuro do gerenciamento de projetos no Jornalismo Colaborativo
No ambiente corporativo, o gerenciamento de projetos é uma função consolidada. No jornalismo, no entanto, o conceito de “projeto” ainda é relativamente novo e, por muito tempo, foi visto com ceticismo. Termos como “gerente de projetos” ou “coordenador editorial” ainda estão ganhando espaço. Mas à medida que o jornalismo colaborativo cresce, o papel do gerente de projetos torna-se cada vez mais reconhecido e valorizado.
A abordagem de Gubbels oferece um modelo que pode ser adotado por organizações que buscam uma gestão eficiente e colaborativa. Na prática, o sucesso do jornalismo colaborativo exige não só o talento individual dos jornalistas, mas uma estrutura de apoio que garanta a coesão e a eficiência do projeto.
Coco Gubbels defende que o jornalismo colaborativo não é apenas uma tendência, mas uma necessidade para enfrentar as questões mais urgentes de nosso tempo. O guia de gestão de projetos da GIJN é um recurso valioso para jornalistas e gerentes de projeto que buscam aprimorar suas habilidades e enfrentar os desafios de grandes investigações colaborativas.
No fim das contas, o jornalismo colaborativo bem estruturado não é apenas sobre a história, mas sobre como construir uma equipe e um processo que permitam que a verdade seja contada em escala global.