Nós, jornalistas, sem falsa modéstia, somos socialmente muito importantes. Eu diria vitais para as sociedades de livre expressão e livre empresa.
Mas vivemos uma Contradição Essencial: não somos sempre senhores de nossas opiniões e convicções.
Aprendi cedo, lendo Marx, que o dono da opinião é o dono do meio de produção. Nessas mesmas sociedades em que o jornalismo e o jornalista são essenciais, essa é a regra.
O jornalista tem a missão e a capacidade de capturar e registrar fatos, reproduzir a realidade. De analisar sistemas políticos, econômicos e dados sobre acontecimentos globais. Por séculos, essa profissão tem sido uma das mais importantes na área da comunicação, registrando e transformando notícias em fontes de informação confiáveis para o mundo inteiro.
No entanto, para exercer sua função, o jornalista precisa trabalhar para empresas de comunicação que, geralmente, não pertencem a ele e que, nem sempre, se alinham a suas visões particulares. E essa subordinação é a alma de uma tensão constante entre a ética profissional e as exigências corporativas. Um drama para muitos profissionais jornalistas.
Por experiência própria, a única forma de um jornalista se tornar essencialmente dono do seu nariz e convicções é ser seu próprio empresário. Ocorre que poucas vezes vi gente com tão pouca capacidade empresarial como jornalistas. Juro.
Advogado, engenheiro, médico, arquiteto, publicitário, todos tem muito mais. Mas muito mais.
Pena para o jornalismo e para os jornalistas, que são críticos quanto a tudo, menos com sua própria Contradição Essencial. Pior: mexem-se pouquíssimo para mudar esse seu claustro.
Coleguinhas, querem alternativas a isso? (Os que não quiserem já demoraram demais me lendo aqui.) Vamos lá:
- Criar coletivos e cooperativas
- Encontrar investidores em linha com seus princípios
- Dominar mais a tecnologia e as redes sociais
- Entender mais de mídia e da gestão de mídia e suas verbas
- Entender mais de marketing
A Contradição Essencial do jornalista é um reflexo das complexas relações de poder e propriedade na indústria da comunicação. Enquanto os jornalistas não tiverem controle sobre os meios de produção, continuarão a enfrentar essa tensão entre sua missão de informar e os interesses dos donos dos meios para os quais trabalham.
Não tenho nada contra os donos de meios de comunicação. Tive, aliás, o privilégio de trabalhar para alguns excelentes empresários do setor. Sem eles, deixo bem clara minha posição aqui, nem jornalismo existiria, porque se a imprensa dependesse só de jornalistas, o que ocorreria eu já descrevi aí acima.
Creio que o convívio entre a livre empresa e o profissional do jornalismo é absolutamente saudável.
A independência completa desse profissional é um ideal difícil de alcançar, mas a busca por soluções que aumentem a autonomia e a liberdade editorial dos jornalistas é um desafio importante para o fortalecimento da democracia e da verdade na mídia.
Abaixo, alguns exemplos de jornalistas que fizeram isso (não defendo nenhum deles, nem esta pretende de forma alguma ser uma lista exaustiva… são apenas exemplos que me ocorreram):
- Mino Carta – Fundador e empresário da IstoÉ e da CartaCapital
- Carlos Sambrana e Ralphe Manzoni, jornalistas fundadores da NeoFeed
- Geraldo Samor – fundador e empresário do Brazil Journal
- Leonardo Attuch, fundador do Brasil 247
- Arianna Huffington – Fundadora e empresária do The Huffington Post
- Ezra Klein – Cofundador do Vox
- Matt Taibbi – Co-Cofundador do The Racket
- Todos os bravos jornalistas locais e regionais que batalham duro para serem exemplo de profissionalismo, civilidade e … empreendedorismo … em várias iniciativas isoladas Brasil afora.
Esses jornalistas exemplificam a busca por independência editorial e a vontade de oferecer ao público reportagens e análises com essencial liberdade.