As próximas eleições no Brasil trarão desafios significativos para os editores de jornais locais, especialmente diante do uso crescente de tecnologias de Inteligência Artificial (IA) cognitiva e generativa por candidatos e partidos. Essas tecnologias avançadas podem ser usadas para enganar a imprensa e os eleitores com informações falsas, conhecidas como fake news.
Vou compartilhar com você o que sei sobre o assunto, e também o que não sabia mas pesquisei. Meu objetivo é tentar ajudar você, seu trabalho e sua empresa no enfrentamento desse desafio, buscando oferecer orientações práticas para que editores possam identificar e combater a desinformação, mesmo com recursos financeiros e tecnológicos limitados.
E apesar dos avanços da má tecnologia, é imprescindível você seguir prestando um serviço editorial jornalístico idôneo e confiável.
Começo citando três principais usos maléficos da Inteligência Artificial em eleições:
Criação de Deepfakes e Conteúdos Manipulados:
Descrição: Deepfakes são vídeos, áudios ou imagens falsificadas que parecem incrivelmente reais, criados utilizando IA generativa. Essas manipulações podem mostrar candidatos dizendo ou fazendo coisas que nunca disseram ou fizeram.
Impacto: Esses conteúdos falsos podem ser usados para difamar adversários políticos, criar confusão entre os eleitores e manipular a opinião pública de maneira significativa.
Bots e Perfis Falsos em Redes Sociais:
Descrição: Perfis automatizados ou falsos controlados por IA espalham desinformação de maneira massiva e coordenada. Esses bots simulam interações humanas, tornando difícil distinguir entre usuários reais e falsos.
Impacto: Amplificam narrativas falsas, criam polarização e influenciam discussões online, moldando a percepção pública de maneira enganosa.
Manipulação de Algoritmos e Dados:
Descrição: A IA pode ser usada para manipular algoritmos de recomendação em plataformas de mídia social, promovendo conteúdos falsos ou enganosos. Além disso, técnicas avançadas de análise de dados permitem direcionar propaganda política de forma extremamente precisa.
Impacto: Direcionam desinformação a públicos específicos, maximizando a eficácia de campanhas enganosas e distorcendo o debate democrático.
Orientações para Identificar Fake News
Verificação de Fontes
Passo a Passo:
- Cheque a origem da informação. Sites confiáveis têm um histórico de reportagens precisas e reconhecidas.
- Verifique se a notícia foi publicada por outras fontes respeitadas.
- Utilize ferramentas e consulte serviços de verificação de fatos. Temos bons exemplos de iniciativas locais, regionais e iniciativas nacionais como Lupa, Aos Fatos, Comprova.
Análise de Conteúdo:
Passo a Passo:
- Desconfie de títulos sensacionalistas ou alarmantes.
- Leia a notícia completa, não apenas o título ou a chamada.
- Verifique a data da publicação para garantir que a notícia não seja antiga e esteja sendo utilizada fora de contexto.
Ferramentas e Recursos:
Uso de Ferramentas Gratuitas:
- Google Reverse Image Search: Para verificar a autenticidade de imagens.
- InVID: Para análise de vídeos.
- Snopes, FactCheck.org: Plataformas internacionais de verificação de fatos.
- Redes de Colaboração:
- Participe de redes de jornalistas e organizações dedicadas ao combate à desinformação.
Estratégias para Pequenos e Médios Publishers
Educação e Treinamento:
Promova workshops e sessões de treinamento para sua equipe sobre como identificar e combater a desinformação. Isso garantirá que todos estejam equipados com o conhecimento necessário para enfrentar esses desafios.
Colaboração com Instituições:
Estabeleça parcerias com universidades e ONGs que atuam na área de combate à desinformação. Essas colaborações podem fornecer acesso a recursos e conhecimento especializados.
Engajamento da Comunidade:
Incentive os leitores a reportar possíveis notícias falsas. Crie um canal dedicado para verificação de fatos e publique desmentidos e correções quando necessário. Isso não apenas fortalece a confiança dos leitores, mas também amplia a capacidade de identificar e combater a desinformação de maneira comunitária.
Uma vez mais a palavra de ordem “colaboração” aparece aqui. Sabe por que? Porque você precisa deixar de ser “sozinhista” e colaborar deixou de ser, para a sua sobrevivência e a do seu negócio, mandatório. Uma ordem.
3 é demais
Três notícias ou conteúdos importantes, que você pode não ter lido.
- Entenda por que ferramenta do Google, baseada em IA, preocupa parte do setor de jornalismo. Veja declarações.
- De todas as páginas web que existiam em 2013, 38% já não estão disponíveis hoje. Análise do Pew Research Center.
- Como ficam os direitos de propriedade intelectual à medida que a tecnologia avança? Leia neste artigo.
Reprise: A Cobertura Jornalística em Desastres Ambientais
A Alright promoveu uma live com diversos veículos de notícias locais para discutir e compartilhar experiências sobre a cobertura jornalística em relação à emergência climática atual que segue impactando o Rio Grande do Sul (RS). O evento se tornou um importante registro do trabalho realizado pelo jornalismo local para ajudar o RS.
Assista a reprise no canal da Alright no YouTube e entenda como jornalistas e executivos de veículos locais estão atuando e escrevendo esse capítulo da história do jornalismo local.
Artigo no Blog: Remuneração da Mídia Tradicional em Plataformas Digitais
A Câmara dos Deputados aprovou em 22 de maio um Projeto de Lei que obriga plataformas digitais a remunerar a mídia tradicional pelo uso de seu conteúdo, visando equilibrar a relação entre as grandes empresas de tecnologia do mundo e empresas de mídia tradicional. Entidades como Ajor, FENAJ e Repórteres Sem Fronteiras destacam a importância de um debate aprofundado sobre remuneração justa e a promoção de uma produção jornalística diversificada e regionalizada. As regras serão incorporadas ao Marco Civil da Internet.
Leia no artigo em nosso blog o que acontece com a aprovação e o que dizem as entidades sobre as mudanças.