Não se engane, a Inteligência Artificial é burra. Bem burra. Descubra como se cria a Burrência Artificial
Ela funciona compondo pedaços de informações e códigos. Ela os une e gera coisas a partir desse processo, mas não tem a menor consciência do que de fato está fazendo.
No caso do mundo editorial, vamos a um exemplo bem simples: inflação.
Se você perguntar a uma máquina de Inteligência Artificial o que é inflação (eu fiz o teste), ela vai responder assim: “Inflação é o aumento contínuo e generalizado dos preços dos bens e serviços em uma economia ao longo do tempo. Isso resulta na perda do poder de compra da moeda, o que significa que a mesma quantidade de dinheiro comprará menos bens e serviços do que antes. A inflação é medida principalmente por índices de preços, como o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que rastreiam os preços de uma cesta de bens e serviços representativa.”
A resposta segue: “A inflação pode ser causada por uma variedade de fatores, incluindo aumento da demanda, custos de produção mais altos, política monetária expansionista, choques de oferta, entre outros. Altas taxas de inflação podem ter consequências econômicas negativas, como redução do poder de compra, incerteza econômica e distorções nos mercados. Por outro lado, uma inflação moderada pode ser considerada saudável para estimular o crescimento econômico e evitar a deflação, que é uma queda geral de preços.”
Está tudo absolutamente certo. Só que ela não faz a menor ideia do que isso implica para você e para mim, na economia brasileira hoje, porque não tem consciência do que de fato seja inflação. Ela organiza códigos. E deu.
Empresas editoriais de todo o mundo estão experimentando Inteligência Artificial na geração de artigos para publicação. Os adeptos mais fervorosos dizem que as notícias geradas pela IA podem ser mais precisas do que os artigos escritos por humanos. Isso ocorre porque os algoritmos de IA podem analisar grandes quantidades de dados de múltiplas fontes e identificar padrões e tendências com uma capacidade de processamento que nós humanos nunca chegaremos nem perto de ter nunca.
Ocorre que, quando utilizamos esse poder de aglutinação e síntese – que de fato é sensacional quando bem usado e usado para o bem – para o jornalismo cotidiano, o lado máquina sem consciência da realidade pode aflorar e muitos desastres podem acontecer. Sérios desastres. É aí que nasce a Burrência Artificial.
Pois prepare-se para conviver com ela e a aprender como evitá-la, em nome do melhor jornalismo e trabalho editorial.
Os exemplos da Burrência Artificial
CNET é um conhecido e respeitado editor de informações e notícias sobre tecnologia dos Estados Unidos.
Em um artigo editado por suas máquinas de Inteligência Artificial sobre juros compostos, o texto dizia que um depósito de US$ 10.000 com juros de 3% renderia US$ 10.300 após o primeiro ano. Na verdade, esse depósito renderia apenas US$ 300.
A máquina não sabe fazer cálculos? Claro que sabe. Melhor e muito mais rápido do que qualquer ser humano. Isso vale desde as maquininhas eletrônicas de calcular que começaram a aparecer nos anos 1970.
Ocorre que, como acabo de dizer, para a máquina, não há nenhuma diferença de contexto entre os dois números. Ela não sabe. Ela cola deduções algorítmicas e isso é bem diferente de saber.
Descobriu-se então que a CNET vinha usando sistematicamente a Inteligência Artificial para escrever inúmeros artigos. Um desastre jornalístico, como chamou a publicação The Washington Post, um importante e respeitado editor da cidade de Washington, nos Estados Unidos.
Pois atentem para o seguinte: certamente o próprio The Washington Post também usa hoje a Inteligência Artificial para produzir parte de seus textos. No entanto, processos de verificação exaustivos, feitos por humanos e não necessariamente por máquinas, garantem hoje que aquilo que o Washington Post publica não seja fruto da Burrência Artificial.
A Sports Illustrated, publicação esportiva conceituada dos Estados Unidos, foi outra empresa de mídia a ver sua reputação prejudicada por ser pouco aberta sobre quem ou o que está escrevendo suas histórias com inteligência Artificial.
Depois de vários erros cometidos e constatados em seu conteúdo editorial, a empresa demitiu um prestador de serviços que fazia a produção de notícias para ela, inclusive sendo assinadas por jornalistas que nunca existiram na vida real. Nomes falsos, para jornalistas falsos. Máquinas, na realidade.
Outro exemplo. Uma lista cronológica de filmes e programas de TV de Star Wars foi publicada pelo site também de tecnologia Gizmodo, dos Estados Unidos, e apresentava erros factuais significativos, deixando de fora clássicos absolutamente conhecidos de todos nós, o grande público.
A Inteligência Artificial não está nem aí com isso. Dormiu em paz aquela noite, porque não tem a menor ideia do que seja Star Wars e do que seja grande público. Ou outro público qualquer.
Muitas empresas jornalísticas estão testando a nova tecnologia, assim como várias outras indústrias também estão. E tudo isso vai continuar a acontecer daqui para a frente.
Ocorre que o jornalismo tem lá sua especificidade, pois constrói e comercializa os seus produtos baseados em valores e em torno das noções de verdade e transparência. De conceitos que estão ligados à correção da informação a todo custo e a responsabilidade que tem diante das suas audiências. Não há espaço para a burrência.
Humanos cometem erros também? Claro. Direto e reto. Aliás, muito mais do que as máquinas.
Ocorre que a Inteligência Artificial tem como sua premissa maior de existir o fato de que, em muitas tarefas, é mais veloz e mais eficiente que os seres humanos. Quando ela erra, seu erro deve ser analisado com atenção ainda maior, porque estamos cada vez mais delegando tarefas humanas às máquinas e se elas não são tão eficientes como se pressupõe, qual é o ponto, então? Porque confiar nelas?
A primeira e grande lição aqui é: nunca confie em máquina nenhuma. Nem em Inteligência Artificial nenhuma.
No mundo editorial, cheque o que a máquina fez. Ela vai ter feito o trabalho original de reunir dados e informações e redigir um texto básico milhares de vezes mais rápido do que faríamos, mas ela ainda exige hoje a checagem homem-máquina.
Sabendo desses evidentes e muitas vezes clamorosos erros, que no mundo da Inteligência Artificial passaram a ser chamados de “alucinações” ( nada mais que as burrices da Inteligência Artificial), muitos sistemas feitos em cima da própria Inteligência Artificial começam a trazer embutidos os chamados checadores de fatos (reality checks). São programas que varrem a internet em busca da confirmação ou desconfirmação do que acabou-se de produzir com IA. São ferramentas contra as “fake news”, notícias falsas, produzidas ou não intencionalmente.
Isso é ótimo para o jornalismo e você precisa tanto começar a usar a Inteligência Artificial, assim como, ao mesmo tempo e agora, saber que a Burrência Artificial está ali bem sentadinha na mesa da redação ou dentro do seu pròiprio computador pessoal, prontinha para ser bem burra. E derrubar, sem a menor dor de consciência, toda a sua credibilidade jornalística e editorial.
Publishers, como minimizar o impacto na receita de publicidade pós-cookies
Por Gabriel Mazzutti, Head of Connectivity & Ecosystem LiveRamp Brasil
Não se pode negar que as regulamentações de privacidade afetaram profundamente a forma como os profissionais dos departamentos de marketing, jurídico e de conformidade trabalham. A LGPD foi nosso primeiro obstáculo, agora, chegamos ao fim da era dos cookies de terceiros.
Uma infraestrutura de identidade independente e autenticada em todo o ecossistema da publicidade programática pode manter estratégias orientadas por dados. Isso significa que, ao se preparar para o futuro cookieless, os publishers têm a oportunidade de oferecer às marcas uma maior capacidade de endereçamento, permitindo um incremento significativo e imediato em suas receitas.
Nesse contexto, é fundamental aumentar o número de usuários autenticados. A autenticação é simplesmente qualquer momento que um usuário fornece as Informações de identificação pessoal (PII) a um proprietário ou publisher de mídia. Isso poderia ser na forma de um endereço de e-mail, um número de telefone ou mesmo um login social. Normalmente, essas informações são fornecidas como parte de um processo de inscrição ou registro para uma newsletter ou conta.
Existe uma variedade de estratégias para obter novas autenticações, assim como algumas táticas que podem respaldá-las. Listei abaixo quatro possibilidades que considero serem as mais relevantes.
Assinaturas por e-mail e newsletters
As newsletters com assinatura por e-mail representam um baixo investimento, com pouco esforço para os visitantes, e oferecem um canal direto para criar envolvimento com eles. Configurar uma newsletter por assinatura é uma maneira objetiva de começar a construir sua estratégia de autenticação.
As newsletters ajudam a fornecer conteúdo relevante para o seu público e permitem uma ampla gama de estratégias. Oferecer uma variedade de opções quando apropriado pode ajudar a fazer incursões com seu público diversificado. Por exemplo, alguns visitantes podem preferir uma newsletter ampla, com uma variedade de notícias; outros podem estar interessados em um único tópico; e há aqueles que preferem ser informados apenas quando há anúncio de um novo produto.
Logins sociais
Os logins sociais, nos quais um visitante usa suas credenciais das redes sociais para fazer login, em vez de configurar uma nova conta especificamente com um publisher, têm aumentado ultimamente. Em geral, eles são mais convenientes para os visitantes que não querem criar mais um login ou lembrar de mais uma senha. Em vez disso, eles podem simplesmente usar seus perfis já existentes em plataformas como Google, Facebook e Apple.
Adicionar opções de login social, em conjunto com seu procedimento de registro padrão, é uma maneira fácil de simplificar o processo de registro e aumentar as taxas de autenticação. Dito isso, vale a pena mencionar que os logins sociais não devem ser confundidos com widgets de compartilhamento social, que permitem que os visitantes repostem conteúdo em seus feeds nas redes sociais.
Assinaturas ou ofertas premium
As estratégias baseadas em assinaturas ou ofertas premium têm algumas das maiores barreiras à entrada, em termos de aquisição de assinantes, mas representam uma das melhores maneiras de equilibrar monetização e addressability. O New York Times é um dos exemplos mais conhecidos de um publisher que construiu com sucesso um negócio substancial baseado em assinaturas, enquanto simultaneamente monetizava com base em anúncios.
Conteúdos/Serviços liberados mediante cadastro (gated) e premium
Serviços liberados mediante cadastro (gated) e premium são uma das principais maneiras pelas quais um publisher pode implementar uma troca de valor com seus visitantes. As abordagens de implementação podem ser muito básicas. Por exemplo, algo tão simples como autenticar antes de ter permissão para comentar, ou adaptados a uma vertical específica, como permitir que os assinantes sigam seus times favoritos.
Observe que nenhuma das estratégias ou táticas se excluem mutuamente. Na verdade, à medida que os recursos permitirem, recomendamos que os nossos parceiros usufruam de todas as estratégias e táticas aplicáveis aos seus negócios, priorizando as que geram maior tração no menor espaço de tempo, com o menor esforço.
3 É DEMAIS
Três notícias ou conteúdos importantes, que você pode não ter lido.
- Fim dos Cookies para o Chrome é uma novela sem fim? Veja aqui.
- Alright é destaque na Exame. Confira.
- Os anunciantes estão preparados para a era pós-Cookies de terceiros? Entenda.
Leia também – Onde cabe a verdade no jornalismo da Inteligência Artificial